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Linguística

BREVE HISTÓRIA DA LINGUÍSTICA

Pensa-se frequentemente na História da Lingüística como uma disciplina muito nova. Afinal, a própria Linguística só se estabeleceu em sua atual forma há algumas décadas. Contudo, vem-se estudando a Linguística desde a invenção da escrita e, quem sabe, muito antes disso também. O uso e, em seguida, o estudo da língua com finalidades práticas precedeu o processo de reflexão da análise científica.

Na Índia Antiga, a necessidade de manter viva a pronúncia correta dos textos religiosos ancestrais levou à investigação da fonética articulatória, objetivando reconstruir o "sânscrito" desde os tempos mais remotos. Note-se que esse procedimento já denunciava a pesquisa linguística que se faz atualmente.

Na Grécia Antiga, a necessidade de um vocabulário técnico e conceitual para ser usado na análise lógica das proposições resultou num sistema das partes do discurso que acabou tendo um desenvolvimento que ultrapassou em muito as exigências imediatas dos filósofos que primeiro sentiram as necessidades de tais categorias.

A formação retórica em Roma; a preservação dos textos religiosos proselitistas como o cristianismo e o islamismo; o estabelecimento de traduções literárias vernáculas da Europa renascentista - são todos contextos em que a língua, a princípio uma ferramenta, se tornou objeto de estudo.

Nos séculos posteriores, apareceram diversos linguístas que não destoaram da busca por melhor aprofundamento das teorias científicas de seu tempo. Deveras, pensou-se com mais propriedade na linguagem como um produto das sociedades. Seria ela, por todas as suas características, um fato social?

A esse questionamento Ferdinand de Saussure (1857-1913) responderia originalmente pela afirmativa. Foi ele, sem sombra de dúvidas, um dos principais linguístas da modernidade. Estabelecendo as bases sistemáticas e objetivas do estruturalismo após ter partido das perspectivas científicas baseando-se em ideias de sociólogos e psicólogos de seu tempo, pensou a língua como um produto de forças sociais, uma espécie de "contrato" entre os membros de uma comunidade.

Entendia a linguística como um ramo da ciência mais geral dos signos, que ele propôs fosse chamada de Semiologia. Graças aos seus estudos e ao trabalho de Leonard Bloomfield, a lingüística adquire autonomia e seu objeto e método próprio passam a ser delineados.

Saussure efetua em sua teorização, uma separação entre língua e fala. Para ele, a língua é um sistema de valores que se opõem uns aos outros e que está depositado como produto social na mente de cada falante de uma comunidade, possui homogeneidade e por isto é o objeto da lingüística propriamente dita. Diferente da fala que é um ato individual e está sujeito a fatores externos, muitos desses não lingüísticos e, portanto, não passíveis de análise. Outrossim, enfatizou uma visão sincrônica, um estudo descritivo da linguística em contraste à visão diacrônica do estudo da linguística histórica, estudo da mudança dos signos no eixo das sucessões históricas, a forma como o estudo das línguas era tradicionalmente realizado no século XIX. Com tal visão sincrônica, Saussure procurou entender a estrutura da linguagem como um sistema em funcionamento em um dado ponto do tempo (recorte sincrônico).

BIBLIOGRAFIA

FEEDWOOD, Bárbara. História Concisa da Linguística. São Paulo: Ed. Parábola, 2002. p.17-20.

CÂMARA JR, Joaquim Mattoso. História da Linguística. Rio de Janeiro: Ed. Vozes, 1975. p.104-109.

WIENS, Elmer G. Theory and Criticism Hearing Heidegger and Saussure. Disponível em: http://www.egwald.ca/ubcstudent/theory/heidegger.php. Acessado em: 21 de maio de 2009.

 



TIPOS E GÊNEROS TEXTUAIS

 

 

As palavras fazem parte das mais diferentes situações que vivemos. Com elas informamos o que pensamos e sentimos, contamos fatos, externamos nossos desejos, brincamos, criamos arte, aprendemos, ensinamos, fazemos dissertações, teses, declarações de amor... Com as palavras agimos e interagimos com as pessoas e com o mundo.

 

Nas situações de comunicação, entretanto, as palavras não empregadas soltas ou combinadas aleatoriamente. Elas se unem, constituindo textos, orais ou escritos. Estes, por sua vez, organizam-se de modo diferente uns dos outros, dependendo de quem os produz, do interlocutor, do assunto e da intenção produzida.

 

Esta pesquisa propõe-se discorrer acerca dos diferentes tipos e gêneros textuais que circulam socialmente e que são usados nas diversas situações de interação verbal da comunicação humana, com ênfase nas ocorrências observadas no interior da sala de aula no ensino da língua portuguesa.

 

IMPORTÂNCIA DA CLASSIFICAÇÃO TEXTUAL

 

Ainda hoje, muitos educadores, inclusive professores de Língua Portuguesa, e até mesmo alguns livros didáticos recomendados pelo MEC, usam indistintamente os termos tipos, espécies, modos, modalidades para fazer a classificação textual. Apesar de o trabalho com produção textual ser uma atividade antiga, o estudo científico dessa área de atuação da Língua Portuguesa é considerado recente, haja vista que a lingüística, enquanto ciência específica, é nova e a sua preocupação inicial foi com as unidades menores do texto (o fonema, a palavra, a frase). Na medida em que ela passa a se preocupar com o contexto, começa a pensar na questão do gênero. Contudo, o trabalho com os diversos textos em sala de aula só ganhou um enfoque especial no momento em que os PCNs de Língua Portuguesa evidenciaram a sua importância. Paralelamente com a proposta de leitura e produção de textos, surge a necessidade de se trabalhar os tipos e gêneros discursivos e textuais.

 

É papel do professor apresentar e trabalhar com os alunos os tipos e os gêneros textuais que fazem parte do cotidiano. É fundamental que os estudantes compreendam que texto não são somente aquelas composições escritas tradicionais com a qual se trabalha na escola - descrição, narração e dissertação - mas sim que o texto é produzido diariamente em todos os momentos em que nos comunicamos, tanto na forma escrita como na oral.

 

TIPOS TEXTUAIS

 

São construções teóricas definidas por propriedades lingüísticas intrínsecas, que constituem sequências lingüísticas ou sequências de enunciados no interior dos gêneros e não são considerados textos empíricos. Sua nomeação abrange um conjunto limitado de categorias teóricas determinadas por aspectos lexicais, sintáticos, relações lógicas e tempo verbal, cujas principais designações teóricas são: narração, dissertação, descrição, injunção e exposição.

 

. NARRAÇÃO - Tipo textual em que se conta um fato, ficto ou não, que ocorreu num determinado tempo e lugar, envolvendo certos personagens. O fato narrado apresenta uma sequência de ações envolvendo personagens no tempo e no espaço. Em sua estrutura, o tempo verbal predominante é o pretérito, há presença de conectivos temporais (depois, em seguida, etc.), havendo uma relação de anterioridade e posterioridade. O narrador, diante dos fatos narrados, pode ser: narrador, personagem ou narrador-observador.

Exemplo de texto narrativo: "Durante mais de 20 anos partilhou a cama com sua esposa chinesa. E embora Ching-Ping-Mei não lhe tivesse dado filhos, sabia o quanto ela os desejara. Várias vezes, ao longo daquele tempo, dissera-lhe ter estado grávida, perdendo a criança em lamentáveis acidentes. E ele piedosamente fingira acreditar, para não ferir sua delicada sensibilidade oriental". (Marina Colasanti, Contos de Amor Rasgad).

 

. DESCRIÇÃO - Tipo de texto em que se faz um retrato por escrito de um lugar, uma pessoa, um animal ou um objeto. A classe gramatical mais usada é o adjetivo, por sua função caracterizadora. Numa abordagem mais abstrata, podem-se descrever sensações ou sentimentos. Não há relação de anterioridade e posterioridade. A descrição procura apresentar, com palavras, a imagem de seres animados ou inanimados captados através dos cinco sentidos (visão, audição, tato, paladar e olfação). Predominam frases nominais (sem verbo) ou orações com verbos de estado (ser, estar, permanecer, etc); frases enunciativas, adjetivação na qualificação dos nomes e o uso da terceira pessoa.

Exemplo de texto descritivo: "Acha-se ali sozinha e sentada ao piano uma bela e nobre figura de moça. As linhas do perfil desenham-se distintamente entre o ébano da caixa do piano, e as bastas madeixas ainda mais negras do que ele. São de puras e suaves linhas, que fascinam os olhos".(Bernardo Guimarães , A Escrava Isaura).                        

 

. DISSERTAÇÃO - Tipo de texto com posicionamentos pessoais e exposição de ideias. Dissertar é expor reflexões acerca de um determinado assunto. Essa modalidade de texto é de suma importância para o estudante de ensino superior, haja vista que a vida acadêmica é caracterizada pela confecção constante de avaliações discursivas, monografias, dissertações, teses, artigos e comunicações orais. Quanto à estrutura de organização, geralmente apresenta-se em três blocos: introdução (apresenta o tema do texto, suas ideias centrais e/ou a posição que será defendida através dos argumentos que serão expostos); desenvolvimento (explicitação das ideias, argumentos que defendem uma posição, exposição de exemplos e análise de dados, sustentando o tema que foi anunciado na introdução) e a conclusão (fechamento do texto, onde se mostra que ideia proposta pode ser confirmada).

OBS: Alguns autores fazem distinção entre texto dissertativo (cuja finalidade é apresentar, expor determinadas ideias) e texto argumentativo (cuja intenção é persuadir o leitor).

Exemplos de textos dissertativos/argumentativos: monografias, dissertações de mestrado, teses de doutorado, redações de vestibular, etc.

 

. INJUNÇÃO (ou Instrução) - Tipo de texto em que a marca fundamental da sequência é o verbo no imperativo (injuntivo é sinônimo de "obrigatório", "imperativo") ou outras formas que indicam ordem, orientação. São exemplos de sequência injuntiva ou instrucional: receita culinária (modo de fazer), manual de instruções de um aparelho, horóscopo, livros de autoajuda, oração religiosa, uma ordem do dia do exército, uma norma, as leis do Código Penal, Civil, Tributário, Comercial, etc.

 

. EXPOSIÇÃO - Remete para a ideia de explanar ou explicar um assunto, tema, coisa, situação ou acontecimento, que se pretende desenvolver ou apresentar, em pormenor, referindo o tempo, o espaço, a importância ou as circunstâncias do seu acontecer. O discurso expositivo tem por objetivo informar, definir, explicar, aclarar, discutir, provar e recomendar alguma coisa, recorrendo à razão e ao entendimento. Na organização do texto expositivo, é necessário escolher o tema a desenvolver, definir o propósito que perseguimos ou os objetivos, conhecer o destinatário da exposição, pesquisar a informação sobre o tema, selecionar os dados de interesse, elaborar um guia com o plano do que se vai escrever ou dizer, estruturar de forma ordenada a informação, recorrer a materiais de suporte como imagens, gráficos, diagramas, slides em powerpoint ou flash...

Exemplo de texto expositivo: "As chuvas caem em gotas porque é desse modo que a água se forma no interior das nuvens. Nuvens são aglomeradas de microgotículas de água surgidas por condensação - passagem do estado gasoso para o líquido - de vapor na atmosfera. Por serem muito leves essas gotículas, cujo diâmetro é da ordem de milésimos de centímetros, flutuam como poeira em suspensão. Somente quando se juntam devido a choques e formam gotas maiores, de pelo menos 2 milímetros de diâmetros, é que adquirem peso suficiente para cair." (revista Superinteressante -2008).

 

 

GÊNEROS TEXTUAIS

 

Referem-se às diferentes formas de expressão textual. Nos estudos da Literatura, temos, por exemplo, poesia, crônicas, contos, prosa, etc. Para a Linguística, os gêneros textuais englobam estes e todos os textos produzidos por usuários de uma língua, tais como: a carta pessoal, a conversa telefônica, o e-mail, e tantos outros exemplos de gêneros que circulam em nossa sociedade. No processo comunicativo, os textos têm uma função e cada esfera de utilização da língua, cada campo de atividade, elabora determinados gêneros estáveis, ou seja, repetem-se tanto no assunto, como na função, no estilo, na forma. É isso que nos permite reconhecer um texto como carta, ou bula de remédio, ou poesia, ou notícia jornalística, dentre outros exemplos.

 

O que é falado, a maneira como é falado e a forma dada ao texto são características diretamente ligadas ao gênero. Como as situações de comunicação em nossa vida social são inúmeras, inúmeros são os gêneros textuais. Cabe ressaltar que a identificação do gênero textual é um dos primeiros passos para uma competente leitura de texto, haja vista que, dentro de um gênero textual, podem existir diferentes tipos textuais.

 

Dessa forma, podem ser considerados exemplos de gêneros textuais: anúncios, convites, atas, avisos, programas de auditórios, bulas, cartas, cartazes, comédias, contos de fadas, crônicas, editoriais, ensaios, entrevistas, contratos, decretos, discursos políticos, histórias, instruções de uso, letras de música, leis, mensagens, notícias. São textos que circulam no mundo, que têm uma função específica, para um público específico e com características próprias.

 

É importante ressaltar que, gênero textual é uma espécie de ferramenta que utilizamos em determinadas situações de comunicação. Sua escolha é feita de acordo com diferentes elementos que participam do contexto, como quem está produzindo o texto, para quem, com que finalidade, em que momento histórico...

 

Mais exemplos de gêneros textuais do cotidiano são: cartão postal, carta, receita, cartaz, relatório, depoimento, texto teatral, roteiro de cinema, manifesto, abaixo-assinado, editorial, crítica, reportagem, entrevista, notícia, anedota, relato, autobiografia, ensaio, testemunho, palestra, entrevista, debate, assembleia, discurso, resenha, adivinha, piada, charge, etc.

 

Na Cultura Literária podemos citar ainda: conto de fadas, fábula, lenda, narrativa de aventura, narrativa de ficção cientifica, narrativa de enigma, narrativa mítica, sketch ou história engraçada, biografia romanceada, romance, romance histórico, novela fantástica, conto, crônica literária, poesia, etc.

 

Convém afirmar que o trabalho com a leitura, compreensão e a produção escrita em Língua Materna deve ter como meta primordial o desenvolvimento no aluno de habilidades que façam com que ele tenha capacidade de usar um número sempre maior de recursos da língua para produzir efeitos de sentido de forma adequada a cada situação específica de interação humana.

 

Pelo exposto, infere-se que o ensino-aprendizagem de leitura, compreensão e produção de texto pela perspectiva dos tipos e gêneros recoloca o verdadeiro papel do professor de Língua Materna hoje, não mais visto como um especialista em textos literários ou científicos, distantes da realidade e da prática textual do aluno, mas como um especialista nas diferentes modalidades textuais, orais e escritas, de uso social.

 

Assim, o espaço da sala de aula é transformado numa verdadeira oficina de textos de ação social, o que é viabilizado e concretizado pela adoção de algumas estratégias, como enviar uma carta para um aluno de outra classe, fazer um cartão e ofertar a alguém, enviar uma carta de solicitação a um secretário da prefeitura, realizar uma entrevista, etc. Essas atividades, além de diversificar e concretizar os leitores das produções, permitem também a participação direta de todos os alunos e eventualmente de pessoas que fazem parte de suas relações familiares e sociais.

 

A avaliação dessas produções abandona os critérios quase que exclusivamente literários ou gramaticais e desloca seu foco para outro ponto: o bom texto não é aquele que apresenta, ou só apresenta características literárias, mas aquele que é adequado à situação comunicacional para a qual foi produzido, ou seja, se a escolha do gênero, se a estrutura, o conteúdo, o estilo e o nível de língua estão adequados ao interlocutor e podem cumprir a finalidade do texto.

 

Abordando os tipos e os gêneros textuais, o professor estará dando ao aluno a oportunidade de se apropriar devidamente dos saberes socialmente utilizados, oportunizando-o a movimentar-se no dia-a-dia da interação humana, percebendo que o exercício da linguagem será o lugar da sua constituição como sujeito, pois é aprendendo e dominando os tipos e gêneros textuais que os alunos desenvolverão sua capacidade de agir, raciocinar e interagir com o mundo.

 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

 

 

ABREU, Antônio Suárez. Curso de Redação. Rio de Janeiro: Ática, 2004.

 

CALDAS, Lílian Kelly. Trabalhando Tipos e Gêneros Textuais em Sala de Aula. Trabalho apresentado à IBILCE/UNESP - São José do Rio Preto. Disponível em: http://www.alb.com.br/anais16/sem03pdf/sm03ss16_09.pdf. Acessado em: 12 de outubro de 2010.

 

CEREJA, William Roberto & MAGALHÃES, Thereza Magalhães. Texto e Integração. São Paulo: Saraiva, 2000.

 

COLASANTI, Marina. Contos de Amor Rasgados. Rio de Janeiro: Rocco, 1986.

 

 

GUIMARÃES, Bernardo. A Escrava Isaura. 19ª edição. São Paulo: Ática, 1993.

 

 

MARCUSCHI, L. A. "Gêneros Textuais: definição e funcionalidade" In DIONÍSIO, Ângela P.. et al. Gêneros Textuais e Ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002.

 

TERRA, Ernani & NICOLA, José de. Português: de olho no mundo do trabalho. São Paulo: Scipione, 2004.

 

TRAVAGLIA, L. C. (1991). Um estudo textual-discursivo do verbo no português. Campinas, Tese de Doutorado / IEL / UNICAMP, 1991. 330 + 124 pp.

 

 

 

VALARINHO, Sabrina. Gêneros Literários. Disponível em: http://www.brasilescola.com/literatura/generos-literarios.htm. Acessado em: 12 de outubro de 2010.

 


LEVANTAMENTO DE SITUAÇÕES DE LINGUAGEM EM QUE O MAL-ENTENDIDO ACONTECE

 

 

Nas diversas situações sócio-comunicativas do dia-a-dia, deparamo-nos com problemas de compreensão textual. Embora os textos estejam presentes em todos os atos de comunicação, eles nem sempre são compreendidos de maneira satisfatória. É comum ouvirmos alguém dizer frases tais como: "Não entendi.", "Boiei!" ou "O que você quis dizer com isso?".

 

A realização desse trabalho fundamentou-se na lição sempre precisa de Marcuschi (2004), para quem:

 

"a compreensão não é uma atividade natural e nem uma herança genética nem uma ação individual isolada do meio e da sociedade em que vive. Compreender exige habilidade, interação e trabalho. Compreender não é uma ação apenas lingüística, mas é muito mais uma forma de inserção e um modo de agir sobre o mundo na relação com o outro".

 

O texto é um evento comunicativo em que convergem ações lingüísticas sociais e cognitivas. A compreensão de um texto não se esgota somente no lingüístico. Ela é fruto de uma atividade social, uma vez que, para a sua realização, faz-se necessária o  uso da linguagem atendendo ao contexto em que é produzida, onde interagem fatores linguísticos (domínio do sentido e estrutura das frases e enunciados) e extralinguísticos (comportamentos, gestos, tom, intenção comunicativa, conhecimentos partilhados).

 

Sempre que codificamos ou interpretamos uma frase usamos conhecimentos que nos são facultados pela situação em que a frase é usada, pois a comunicação linguística não existe fora de um contexto particular, motivado pela interação social.

 

Estes conhecimentos permitem-nos aceder mais facilmente ao significado de certas mensagens, para cuja decodificação não basta a competência linguística. No uso da linguagem obedecemos a escolhas e restrições de interpretação facultadas pela situação particular em que nos encontramos; recorremos ao conhecimento de regras e princípios que regulam a língua em situação de uso, que estão para além do conhecimento da língua. Estes princípios reguladores da atividade verbal são objeto de estudo da Pragmática.

Há uma série de fatores extralinguísticos que incluem o que é dito, o modo como é dito e a intenção com que é dito, o posicionamento físico, os papéis sociais, as identidades, as atitudes, os comportamentos e crenças dos participantes, a relação entre eles e a localização espacial e temporal: estes fatores constituem, o contexto situacional, diferente do contexto linguístico ou co-texto. A mesma frase pode estar na origem de tantos enunciados quantas as situações em que é usada, e sequências de uma ou mais frases podem constituir por si só um enunciado.

 

Os chamados mal-entendidos, ou problemas de comunicação, surgem, geralmente, nas interações verbais do dia-a-dia, nas quais a diversidade lingüística atua como um recurso comunicativo de forma a permitir que os interlocutores se baseiem em conhecimentos e paradigmas relativos às diferentes maneiras de articulação da língua para categorizar eventos, inferir intenções e antever situações que poderão ocorrer. Se uma elocução pode ser entendida de diferentes modos, as pessoas podem interpretar uma determinada elocução com base em suas definições ou percepções do que está acontecendo no momento da interação, num dado contexto histórico-social.

 

Exemplos de diálogos e  situações observadas no dia a dia, em que se percebe que a comunicação ficou prejudicada por algum fator "extralinguístico", externo à estrutura da linguagem.

 

Se alguém diz:

- Terás que o levar ali amanhã.

Se não conhecemos o contexto (onde e quando), não seremos capazes de entender a que se refere a oração.

 

Se um aluno sentado diz ao professor:

- O motivo d'eu não levantar para cantar o Hino Nacional é esse (e aponta para baixo)

Se o professor desconhece que o aluno sofreu um acidente automobilístico e está com o tornozelo imobilizado, bem como não consegue visualizar o pé do aluno sob a carteira, não entenderá sua incapacidade física. Poderá, então, interpretar erroneamente tal atitude como desrespeito ao símbolo nacional.

 

Se uma pessoa aproxima-se de um deficiente visual (sem saber dessa sua condição), e interpe-la-o com o pedido:

- Me dá isso aí!!! (apontando para o objeto desejado)

Certamente, o interpelado não alcançará o que se passa na mente e no gesto do enunciador, que fatalmente terá frustrado o seu desejo, podendo receber algo diverso daquilo que pretendia receber, ou nada receber.

 

Outros exemplos que podem provocar mal-entendidos, em que só contexto poderia solucioná-los:

- Ontem eu vi o ladrão daquela janela.

- Passando pela avenida, comprei o retrato do menino.

- Aquela velha senhora encontrou o garotinho em seu quarto.

 

Como entender as palavras e expressões abaixo, comuns no dia-a-dia dos funkeiros, sem fazer parte dessa comunidade? (fatores extralinguísticos sociais)

Tomar bola (sofrer prejuízo); Tecido (estilo de se vestir); Bifão ou Arroz (sujeito que anda acompanhado de várias meninas, mas não fica com nenhuma); Coiote (gay enrustido); Cata-mocréia (pessoa que vai à porta de escolas seduzir as alunas na hora da saída); Osso da Borboleta (estar numa situação desagradável); Buzi (conversa particular); Choque de Mansão (pessoa considerada legal); Prederar (surgimento de dificuldade); Baba (música lenta); Farofa (a música mais tocada nos bailes); Saddan Hussein (brigar); Mulão (lugar lotado); Arrastar Mula (assaltar ônibus); etc.

 

Como entender as palavras e expressões abaixo, comuns nas diversas regiões brasileiras? (fatores extralinguísticos regionais)

Ceará: Butar Buneco! (divertir-se); Ele é Moco! (ele é surdo); Isso é miolo de pote! (isso é besteira!); Tá fumando numa quenga! (tá com muita raiva!), etc.

 

Rio Grande do Sul: Bagual (potro recentemente domado, arisco, bisonho); Bochinche (desordem, briga; baile sem classe); Chasque (mensageiro pessoa que leva recados); Guaiaca, rastra  (cinto largo de couro macio); Xerenga (faca velha, ruim), etc.

 

Bahia: A locé (como bem quer); Aqui d'el-rei (socorro); Bacuejo (meio banho de asseio); Califom (sutiã); Cornetão-de-semente (marido traído conscientemente); Xixilado (comum demais); Viva de chapéu de sol  (descompostura grossa); Lodaça (vantagem ou mentira), etc.

 

Minas Gerais: Bacurim  (leitão que ainda amamenta); Bembeu (pessoa raquítica, mirrada; bezerro enjeitado); Bonserá (casa de cômodos, cortiço, habitação coletiva de baixa categoria); Calumbim (mata de espinheiros); Goiabeiro (quem vive de barganhas), etc.

 

Pará: Aparecido (fantasma); Cainho (sovina); Ciar (ter ciúmes); Enjerizado (mal-humorado); Recoluta (reunir o gado extraviado); Taimbé (precipício); Já hojinho (há pouco tempo); Paquera (intestinos); Teatinando (vagando), etc.

 

São Paulo: Boneca (espiga de milho madura); Carne-de-vaca (coisa muito comum, vulgar, banal); Matungo (cavalo velho ou lerdo); Pacuera (as entranhas, conjunto de traquéia, bofes, coração, fígado e baço de alguns animais, especialmente o boi, carneiro e porco), etc.

 

Mal-entendidos Famosos:

- Garotinho não sabe administrar coisa grande. (Luís Inácio Lula da Silva, quando candidato à Presidência pelo PT, questionando a capacidade do governador do Rio para ocupar o lugar de FHC.(Veja -05/04/2000).

A leitura da "frase" sem o contexto é interessante, tendo em vista a utilização do sobrenome Garotinho, e não o nome inicial Anthony.  Gente pequena não sabe administrar coisas grandes! O contexto desempenhou o papel de orientar a leitura, evitando-se o mal-entendido.

 

- Tudo o que a mamãe tem de bom, peguei. Rogéria, travesti (Isto É, 21/07/2001).

Só o contexto do editor indicando o locutor e sua opção sexual orienta o leitor para efetuar uma leitura condizente com a interpretação sugerida por Rogéria. Não foram bens materiais que Rogéria pegou de sua mãe, porém sua feminilidade.

 

- Ele só me dá pepino. Rosinha Matheus, mulher do governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, sobre o fato de seu marido ter-lhe entregue a Secretaria de Ação Social. (Isto É, 26/04/2000).

 

- Faça como a Seleção. Leve Gol. Anúncio de uma concessionária Volkswagen do Rio. (Veja, 08/08/2001).

A ambigüidade, neste anúncio utilizado em forma de 'frase', traz um caráter irônico, já que nenhuma seleção gostaria de levar gol, porém é o que a nossa está levando em suas últimas atuações. Assim, a Seleção pode levar gol, contudo os leitores do anúncio deveriam escolher levar Gol (carro).

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

 

 

 

BAIÃO, Jonê Carla. Semântica e Estilística: Notas de Aula. Universidade Castelo Branco, Rio de Janeiro, 2010.

 

DAMANTE, Hélio. Folclore Brasileiro. Rio de Janeiro: Funarte, 1980.

 

 

FOUCAULT, Michel. A Ordem do Discurso. São Paulo: Loyola,1996.

 

 

KOCH, Ingedore Villaça. A Coesão Textual. São Paulo: Contexto, 2007.

 

 

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção Textual, Análise de Gêneros e Compreensão. Recife: Departamento de Letras, UFPE. 2ª versão. 2004.

 

 

SIMON, Maria Lúcia Mexias. A Construção do Texto - Coesão e Coerência Textuais - Conceito de Tópico. Disponível em: http://www.filologia.org.br/revista/40suple/a_construcao_de_texto.pdf. Acessado em 23 de setembro de 2010.

 

 

VIEIRA, Joana. Ambiguidade - Efeitos de Sentidos. Disponível em: http://www.portalimpacto.com.br/docs/00000JoanaVestF2Aula18.pdf. Acessado em: 23 de setembro de 2010.