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Literatura Brasileira

CONCRETISMO E POESIA PRÁXIS

 

 

CONCRETISMO OU POESIA CONCRETA foi um movimento vanguardista dos anos 50, herdeiro do Cubismo (Vanguarda Europeia), que ocorreu nas artes plásticas, na música e na poesia.

 

Filiado aos ícones mundiais da poesia mundial (Baudelaire, Malarmé, Ezra Pound, Maiakovisk), o Concretismo começa a despontar no Brasil com a publicação da revista Noigandres pelos três poetas: Décio Pignatari, Haroldo de Campos e Augusto de Campos. Porém, fixa-se no Brasil com a Exposição Nacional de Arte Concreta, em 1956, no Museu de Arte Moderna de São Paulo.

 

A expressão "concretismo" foi extraída do "Manifesto Antropofágico", Oswald de Andrade, 1928, precursor brasileiro da tendência, trazendo novas formas de expressão. Seu objetivo inicial foi o rompimento radical com o verso tradicional, onde o leitor é convidado a participar, redefinir e recompor os registros. Outrossim, o movimento recuperou alguns escritores brasileiros esquecidos pelos críticos da época, tais como: Souzandrade, Qorpo Santo e Pedro Kilkerry.

 

A opção do Concretismo é a de aproximar-se das concepções antropofágicas de Oswald de Andrade, porém buscando a valorização da página em branco como forma de aproveitamento do espaço visual, acrescida do conceito de ideograma da escrita chinesa, bem como dos elementos do Formalismo Russo.

 

Trata-se de uma poesia verbi-voco-visual, cuja originalidade não consiste unicamente na sua visibilidade, mas no surgimento de novas relações morfológicas e sintáticas, onde as associações ocorrem tanto no eixo dos sintagmas como no dos paradigmas.

 

Na voz do mestre: "sem forma revolucionária não há  arte revolucionária" (Maiacovski, apud.  Campos, Augusto et alii, 1975, p.73)

 

 

 

EXEMPLO DE POESIA CONCRETA

 

 

Jaula

 

 

HHHHHHHHHHHHHH

HHHHHHHHHHHHHH

HHHHHHHHHHHHHH

HHHL U T A N O HHH

HHHHHHHHHHHHHH

HHHHHHHHHHHHHH

HHHHHHHHHHHHHH

 

Autor: Luiz Antonio Costa Tarcitano (Pseudônimo: LUTANO)

Poesia Concreta participante do concurso "IX Prêmio Literário Livraria Asabeça 2010", categoria adulta, em andamento, conforme pode ser observado na relação de poetas inscritos em: https://www.concursosliterarios.com.br/materias.php?cd_secao=335&codant=

 

 

ANÁLISE DO POEMA:

 

Embora a interpretação original não seja a mais adequada, pois limita suas múltiplas possibilidades de significação, descrevemos, como exigência acadêmica, uma das possíveis análises desse poema, sem olvidar que cada leitor recria a obra que lê; e que a perpetuidade de uma obra faz-se dela mesma, acrescida daquilo que foram fazendo os seus leitores.

 

O texto afigura-se como uma leitura crítica da mensagem-intimista. O "eu" poético presente no centro da "jaula" de "agás" retrata um sentimento hermético, solitário, humano, pronto para explodir feito bomba "H". Homem com "H", que na hora "H", está preso nas próprias amarras, aos humores, herói sobrevivente do movimento hippie, prisioneiro do hoje, sonhando com as asas da harpia.

 

Outrossim, observa-se que a assimilação fonética no pseudônimo do autor [lutando>lutano], induz a um desejo de movimento constante, evolutivo, uma abstração simbólica do conflito interno, do combate inconsciente do poeta com seus dilemas, aprisionado ao codinome.

POESIA PRÁXIS - A radicalidade formal do Concretismo Plástico e da Poesia Concreta causaram grande impacto no panorama geral da intelectualidade brasileira. A carência de instrumental teórico para realizar a leitura decodificada do significado mais profundo dos poemas concretos, permitia que os mesmos fossem arrolados dentro de um simples formalismo. Criou-se um espaço virtual não preenchido, correspondente à "produção de sentido não lida", exatamente no período de grande mobilização política e ideológica, equivalente ao início dos anos 60. Assim, de repente, grande parte da poesia brasileira rumou para o discurso político-ideológico, sendo que a Poesia Práxis foi a que melhor explicitou as direções exigidas pelo momento social: as necessidades didáticas, semânticas e formais.

 

Desta forma, a Poesia Práxis não está comprometida com o aspecto visual, e sim, com os significados. Desejavam intervir na realidade da época, pretendendo que intelectuais e povo fossem leitores da mesma linguagem. Investiam no cuidado com as palavras, demonstrando que davam mais importância ao espaço em preto (letras, palavras) do que com o espaço em branco (seara concretista).

 

Surgida da dissidência da Concretismo, foi um movimento liderado por Mário Chamie, que a partir de 1961, começou a adotar a palavra como organismo vivo gerador de novos organismos vivos, ou seja, de novas palavras. No ano de 1962, Chamie publicou o livro Lavra - Lavra que mostrou a grande abertura para a Poesia Práxis, cujas principais características e idéias dessa corrente são: o deslocamento do eixo temático metrópole/colônia para o eixo problemático desenvolvimento/subdesenvolvimentoa demonstração de que os movimentos literários brasileiros que se seguiram a 22 não estiveram à altura da liberdade de pesquisa do modernismo, tornando-se apêndices, em defasagem do grande movimento, sem força para superá-lo dialeticamente; caducidade da vanguarda velha (particularmente o academismo de contemporaneidade internacional dos movimentos concretos e neoconcretos) perante a vanguarda nova que é a atitude práxis crítica e criativa.

 

Trata-se de uma poesia de denúncia, onde a mecanização do homem é complemento direto do projeto desmistificador do poema. A analogia fonética é que indica a presença de elementos de expressão. sem dúvida, constitui um comprometimento da vanguarda com as ilusões do realismo referencial, de quem vem a ser altamente profícua.

 

 

EXEMPLO DE POESIA PRÁXIS

Miralua

 

Lua supra

Entreato

Lua infra

No regato

            Retrato

Entremecido

Olho

            elipse

Rangido aquático

            eclipse

Lua sobre lua

Lua sob lua

            Anular

            Lunar

            Lu  ar

            lualua

 

Autor: Armando Freitas Filho. In: Palavra. Rio de Janeiro, edição do autor, 1963, p.32.

 

ANÁLISE DO POEMA:

A semântica do título (MIRALUA), as linearidades gráficas justapostas, levam a uma poética que situa a lua como objeto a ser visto, fotografado. Entreato/no regato compõem os planos aparentes do retrato da Lua, retrata-a como um ver-se no espaço, um ver-se em extensão. É o caminho ascendente que nos leva do plano close para o plano da visão do todo. O sujeito que vê no mundo o fenômeno mundo/objeto, é apenas uma referência implícita ao produto da visão. Este penetrar do produto da visão revela sua relação com /o sob a elipse do olho/, depreendedor da totalidade linear. Tal correlação é possível pela associação semântica entre o produto do reflexo linear da visão sobre o olho que é o regato. Este, associado ao adjetivo aquático, também denota tal associação semântica. A própria Lua, em seu eclipse, nos conduz ao prisma da não-visão. O tempo em profundidade ao nada, que é um produto semântico do anular.

Deveras, reconstruir a lua como dado material da imaginação através da analogia com o espaço não-verbal do apoio fotográfico, integra aquele que lê na ampliação de seu repertório perceptivo, infere-se estarmos, destarte, diante de uma práxis poética.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

 

 

 

AZEVEDO, Vera Lúcia Ramos de. Literatura Brasileira IV: Notas de Aula. Universidade Castelo Branco, Rio de Janeiro, 2010.

 

CAMPOS, Augusto de ; PIGNATARI, Décio & CAMPOS, Haroldo de. Teoria da Poesia Concreta. São Paulo: Brasiliense, 1987.

 

FILHO, Armando Freitas. Palavra. Edição do Autor: Rio de Janeiro, 1963.

 

MENDONÇA, Antônio Sérgio & SÁ, Álvaro. Poesia de vanguarda no Brasil (de Oswald de Andrade ao Poema Visual). Rio de Janeiro: Antares, 1983.

 

SIMON, Iumna Maria & DANTAS, Vinícius. Poesia Concreta (Literatura Comentada). São Paulo: Abril Educação, 1982.

 

TARCITANO, Luiz Antonio Costa. Blog LUTANO. Disponível em: https://lutano-lutano.blogspot.com/search?updated-min=2009-01-01T00%3A00%3A00-02%3A00&updated-max=2010-01-01T00%3A00%3A00-02%3A00&max-results=18 . Acessado em: 16 de setembro de 2010.

 

 


 

TEORIA DA LITERATURA

 

- O QUE É LITERATURA?

A questão proposta encerra caráter altamente complexo.

Para Ezra Pound, Literatura é a linguagem carregada de significado. A definição de Literatura como a "arte de compor ou escrever trabalhos artísticos em prosa ou verso", refere-se à Arte Literária; por outro lado, a acepção de que se trata de um "conjunto de trabalhos literários dum país ou duma época", aproxima-se ao objeto de estudo da História da Literatura.

No entender de José de Nicola, Literatura é a "transfiguração do real, é a realidade recriada através do espírito do artista e transmitida através da língua para os gêneros, com os quais ela toma corpo e nova realidade".

O que se observa é que a resposta a tal pergunta excede, à larga, o espaço de uma definição conclusiva. Isto se deve ao fato de que qualquer definição ficará sujeita a outras definições, o que dá gênese a ampla e intricada malha de conceitos, significações, explicações e termos técnicos. Em verdade, a Literatura é objeto de uma problematização, ou seja, implica construção de uma teoria.

 

- PODE-SE TEORIZAR SOBRE LITERATURA?

Teorizar é transformar alguma coisa em objeto problemático. Desde os primórdios da civilização ocidental, a Literatura tem sido objeto de teorização (em sentido lato). Aliás, já nos textos mais remotos (ex: poemas de Homero), observa-se a necessidade de alguns questionamentos e considerações. Sobre o pálio de tais fundamentos, o que problematiza pela primeira vez a Literatura é a própria Literatura, haja vista que na poesia homérica vislumbra-se considerações de ordem mítica e poética acerca do tema, bem como as representações sociais que a Literatura faz nascer. 

Posteriormente, a Literatura tornou-se objeto de teorização em sentido estrito.

Com Platão e Aristóteles a análise literária avocou contornos mais definidos, principalmente pelo grau de sistematização a que ambos chegaram. Com o passar dos tempos, nasceram diversas teorias sobre Literatura, resumidas em:

a) Normativismo - que fixa uma norma ou preceito que compete ao escritor levar em conta, visando o êxito da composição;

b) Descritivismo - que favorece uma especulação aberta, descrevendo as partes do texto sem estabelecer normas ou regras.

Cabe lembrar que as construções teóricas nem sempre se apresentam desta forma estanque, frequentemente oscilam entre as extremidades supracitadas.

Uma corrente doutrinária tradicionalista admite que a Literatura se presta a tornar-se objeto de estudo (de caráter normativo ou descritivo). Em contrapartida, outra corrente subtrai o texto literário desse contexto intelectualista, opinando pela fruição subjetiva, antiteórica, denominada de "impressionismo crítico", entendendo que não se deve teorizar sobre Literatura, mas sim registrar impressões de leitura sem preocupação de controle conceitual.

 

- QUE DISCIPLINAS ESTUDA A LITERATURA?

O termo "Teoria da Literatura" é de uso recente (1949). Mas não se trata apenas de nova designação para as disciplinas tradicionalmente dedicadas à Literatura. Há concorrência de terminologia para designar a mencionada nova disciplina. Mister se faz situar essa concorrência.

As disciplinas mais antigas na área dos estudos literários são: a retórica e a poética.

A Retórica, oriunda da Grécia (Platão - séc. V a.C.) surgiu com o fito de sistematizar os recursos capazes de dotar o discurso de eficiência, atratividade e convencimento. No início abrangia: a invenção, a disposição, a elocução, a pronunciação e a memória. Com o passar do tempo, a Retórica restringiu sua área de interesse, fixando-se na palavra escrita através da elocução. Ao final do século XVIII, a retórica perdeu seu prestígio, não resistindo às idéias românticas e sua criatividade literária.

A disciplina denominada Poética ou Arte Poética (Aristóteles) também surgiu na Grécia no mesmo período. Até o século I d.C., havia distinção entre Retórica (oratória e raciocínio) e Poética (mimese, verossimilhança, catarse e gêneros literários). A partir daí, esta divisão se reduziu com a Retórica absorvendo a Poética, prosseguindo nestes termos até o final do século XV, quando então a Poética recobrou sua autonomia, transformando-se em disciplina de caráter filosófico-técnico-formal, enquanto a Retórica reduziu-se a uma disciplina de mero ensino escolar. Importante ressaltar a vocação tanto da Retórica quanto da Poética para fixar normas e preceitos à produção literária.

A Poética (também chamada "Clássica") que em sua origem era descritiva-especulativa, do século XV ao século XVIII, tornou-se então normativa e com o aparecimento do Romantismo, entrou em declínio. O termo "Poética" pode apresentar alguns significados em estudos literários, a saber:

a) gênero de Literatura caracterizado pelo uso do verso, da linguagem metrificada, diferente do gênero "prosa" (significado que prevaleceu na Antiguidade Clássica até o Classicismo Moderno);

b) literatura em geral, abrangendo linguagem metrificada e não-metrificada, entendida como manifestações artísticas, ao contrário das demais obras escritas - científicas ou técnicas - (origem romântica, significado prevalente no final do séc. XIX e séc. XX);

c) manifestação, passagem, situação, etc. tidas como bela e comovente, capaz de gerar vibrações íntimas no espectador (versões pós-românticas).

Como é notório, o termo "Poética" teve seu significado muito alterado. Hodiernamente, o termo é equivalente à expressão "Teoria da Literatura", pois simboliza a maneira peculiar contemporânea predominante de estudar Literatura, de caráter descritivo-especulativo e preocupada em investigar seus métodos e conceitos.

O belo, o bem e o verdadeiro deram origem a disciplinas filosóficas dedicadas às suas tematizações. A proposição sobre o "bem" diz respeito à ética e à política; sobre o "belo", à estética e sobre o "verdadeiro", à lógica e à metafísica. Em Platão e Aristóteles, o "belo" tem origem muito antiga na intelectualidade ocidental. Já a "estética", é bem mais recente sua autonomia (séc. XVIII), porém ela não se refere tão-somente à Literatura.

No século XIX, a História da Literatura ocupou a lacuna deixada pela Retórica e pela Poética. A pesquisa passou a ser histórica e científica e esse modo de proceder buscou de fatores externos as origens da Literatura - fatores como a vida e a personalidade do escritor, ou ainda o contexto social - passaram a ser considerados.

Assim, nascem dois modelos de História da Literatura: de natureza biográfico-psicológica (com ênfase na vida do autor) e de natureza sociológica (ênfase em fatores políticos, econômicos, sociais e ideológicos). Estes modelos de História da Literatura, ainda hoje, exercem influência no ensino escolar de literatura e nos compêndios de História da Literatura.

Cabe ainda mencionar um terceiro modelo também existente no século XIX denominado "modelo filológico" o qual limita seu alcance à constatação dos fatos. Esta modalidade de História da Literatura busca: reconstruir textos que tenham se afastado da concepção original de seus autores; explica textos que tenham ficado obscuros para o leitor contemporâneo e inventaria as fontes das obras e as influências a que se sujeitam.

Outra disciplina denominada "Crítica Literária", também do século XIX, tem seu significado no sistema do saber sobre a Literatura.

Finalmente, no século XX observa-se concorrência de uso dos termos: "Poética", "Crítica Literária", "Ciência da Literatura" e "Teoria da Literatura".

 

- A CONSTITUIÇÃO DA TEORIA DA LITERATURA

A Teoria da Literatura surgiu no início do século XX a partir discordâncias conceituais com a disciplina História da Literatura, mas após seu clímax entre os anos 1960 e 1970, iniciou uma trajetória descendente, processo acelerado a partir de 1990, quando seus fundamentos e conteúdos foram questionados pelo pensamento pós-moderno. Contudo, o seu viço acadêmico continua ativo pelos seguintes motivos: seu caráter auto-reflexivo; sua tendência para a compreensão da natureza histórica e sua capacidade de resistência conceitual contra a absoluta relativização de valores (ex: valores estéticos).

Outrossim, no campo dos estudos literários, não ocorre a pura e simples superação de uma disciplina por outra, mas reciclagem das questões a investigar, a medida que problemas momentaneamente valorizados vão perdendo interesse.

O objeto de uma ciência não é "dado", mas "constituído" pela aplicação do método. A constituição do objeto em Teoria da Literatura é problemática, por isso é necessário rever o pensamento de Aristóteles em sua obra a "Poética". Para o filósofo, o objeto da Poética não é a poesia entendida superficialmente como o conjunto das composições em verso, mas sim uma série de propriedades mais sutis e profundas já mencionadas no início deste trabalho.

Já para a História da Literatura, o objeto de investigação dos estudos literários são mais simplórios, afirmando que a Literatura era constituída pela massa de fatos formados por toda a produção escrita. Com isso, desconheceu o problema!

Deveras, para se definir o objeto da Teoria da Literatura, deve-se delimitar o sentido dos termos "poesia" e "literatura".

Poesia é o gênero da Literatura caracterizado pelo uso do verso, da linguagem metrificada ou não-metrificada, desde que nelas existam propriedades artísticas e/ou ficcionais, em oposição às demais obras escritas (científicas e técnicas).

Modernamente, o termo "Literatura" corresponde:

a) ao produto da produção escrita de uma época ou país (Literatura Clássica, Literatura Oitocentista, Literatura Brasileira, etc.);

b) ao conjunto de obras diferenciadas pela temática, origem ou público visado (Literatura Infanto-Juvenil, Literatura de massa, Literatura feminina, Ficção-Científica, etc.);

c) à bibliografia sobre determinado campo especificado (Literatura Médica, Literatura Jurídica, Literatura Sociológica, etc.);

d) com o emprego figurado ou pejorativo, o termo é utilizado como expressão afetada, ficção, irrealidade, frivolidade;

e) à disciplina relativa ao estudo sistemático da produção literária (Literatura Comparada, Literatura Geral, etc.).

Infere-se, por conseguinte, que o objeto da Teoria da Literatura é a "literatura estrito senso" (parte da produção escrita e, eventualmente, certas modalidades de composição verbais de natureza oral, dotadas de propriedades específicas) ou, ainda, a "poesia", mas esta, em conformidade com o conceito acima declarado.

Num grau mais refinado e abstrato, pode-se dizer que o objeto da Teoria da Literatura trata das propriedades específicas do conjunto integrante de obras literárias estrito senso, ou seja, a literalidade (aquilo que torna determinada obra numa obra literária), o modo especial de elaboração da linguagem caracterizado por um "desvio" em relação às ocorrências mais comuns.

Mais ainda, uma pesquisa científica não avança às cegas, mister se faz estabelecer o método, entendido como sendo os princípios e critérios para se chegar ao objeto da pesquisa.

Inicialmente a Teoria da Literatura circunscreveu seu objeto segundo um critério baseado em traços da linguagem (método lingüístico), onde se postula os seguintes princípios: Imanência, Níveis de Análise e Integração. Todavia, a análise da Literatura baseada no método lingüístico não obteve resultados tão nítidos quanto os conseguidos em Lingüística, por isso, houve reação a essa tendência. Mais recentemente, novas atividades metodológicas não desprezam simplesmente o método lingüístico, mas partem da insuficiência que ele revela.

 

- OUTRAS QUESTÕES - A diversidade das correntes doutrinárias deve ser vista como inerente à própria dinâmica dos estudos e pesquisas de investigação literária. Há correntes Textualistas (privilegiam o texto em sua análise), Fenomenológicas (giram em torno da filosofia fenomenológica) e Sociológicas (preocupações sociológicas e ético-políticas).

            Algumas disciplinas se beneficiam com a extensão do método e dos princípios da análise lingüística a seus objetos. A Antropologia e a Psicanálise passaram a processar suas investigações no campo dos fenômenos da linguagem. A Teoria da Literatura também se abeberou da Lingüística, inclusive relacionando-se como dela derivadas (semiótica , teoria da informação, etc.). Certos ramos das ciências exatas (lógica matemática, teoria dos conjuntos, etc.) e, ainda, a História, a Sociologia, a Psicologia e a Filosofia também mantêm afinidades com a Teoria da Literatura.

 

- NÚCLEOS DE INVESTIGAÇÃO

            Método, objeto e lei da disciplina Teoria da Literatura são temas que discutem se esta constitui ou não uma ciência.  Diretamente ligado a este núcleo de problemas está o da afinidade com outras disciplinas, já mencionada acima. Quanto ao histórico de investigação tem-se que, o estudioso de Literatura quase sempre precisa retornar a certas reflexões pretéritas (ex: Aristóteles), a fim de avançar em suas próprias indagações. A construção do conceito de Literatura tem conseqüências decisivas no plano de problemas relativos ao método e ao objeto dos estudos literários. Assim, também, os estudos das relações entre a linguagem literária e os sistemas extratextuais (de contexto social) estão vinculados ao conceito de Literatura com que trabalham. Outras produções culturais (artes, publicidade) e os gêneros literários (dicotômico e tricotômico) também ensejam núcleos de investigação.

 

- FINALIDADES DA TEORIA DA LITERATURA

            A Teoria da Literatura não é uma propedêutica ao estudo das Literaturas. Em verdade, ela é um questionamento sistemático acerca do fato literário e estará presente toda vez que se pretender analisar esse fato. Através da Teoria da Literatura, o texto literário deixa de ser apenas uma fantasia sedutora e emocionante, para aparecer como produção cultural enraizada na realidade, vida, quando empenhada em demonstrar seus aspectos mais esquivos à nossa compreensão

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REALISMO

                        Na segunda metade do século XIX, a aristocracia européia já havia desaparecido da cena dos acontecimentos históricos, ao passo que a burguesia desfrutava seu poder. O triunfo desta classe torna-se indiscutível assim como sua evolução dentro do capitalismo. Até então, as lutas de classe do proletariado misturavam-se com as da burguesia porque, basicamente, as aspirações eram as mesmas. Por volta de 1830, inicia-se a separação das duas classes. A teoria do socialismo começa a ser estruturada e, paralelamente, surge um movimento artístico ativista que põe em crise a "arte pela arte", e exige utilidade social da manifestação artística.

                        Surgem obras baseadas na experimentação científica, como as de Darwin e Claude Bernard, e na filosofia positivista de Augusto Comte. Influem também as idéias de Shopenhäuser (só a ciência pode curar os homens dos devaneios do espírito) e de Taine, com seu determinismo (a arte era o produto determinado pela raça, pelo meio e pelo momento).

                        O cientificismo predominante no pensamento, somado à industrialização progressiva e à vitória do capitalismo, cria o ambiente onde se deflagra o combate em face do sentimentalismo romântico. A literatura produzida passa a apresentar as características das concepções em vigor nesse período: busca da objetividade e oposição ao idealismo romântico. Logo, o Realismo é o estilo que pretende fixar-se no real e no homem comum, assoberbado por problemas prosaicos e rotineiros. O personagem realista carrega em si toda a contradição da natureza humana.

                        Nesse momento da história da arte, a ciência é considerada o único meio legítimo de conhecimento, não havendo lugar para a metafísica. A realidade subordina-se às leis orgânicas. Fatos psicológicos e sociais são considerados manifestações materiais, por isso, os personagens das narrativas realistas serão determinados por uma lógica rigorosa de causa e efeito. O escritor realista preocupa-se com a autenticidade da história narrada, por essa razão, sua narrativa é lenta e o narrador se prende às minúcias e aos detalhes, no desejo de caracterizar melhor o homem e o ambiente.

                        Por essa época, passa a ser norma julgar uma obra literária a partir de sua relação com os problemas da atualidade política e social. A arte se subordina aos ideais de melhoria da sociedade. O romantismo continua existindo, mas evolui do misticismo e da alienação para um ativismo político posto a serviço dos interesses populares.

                        O que caracteriza o período é a vitória da concepção de mundo própria das ciências naturais e do pensamento racionalista e tecnológico sobre o idealismo e a tradição romântica. A literatura deriva seus critérios para a construção de um mundo ficcional regido pela probabilidade científica.

                        A preocupação em conhecer a sociedade e revelar seus conflitos torna a literatura realista analítica, descrente e desmistificadora. Enquanto o Romantismo apresentava uma idealização do comportamento em personagens estereotipados e com escassa densidade existencial, a investigação psicológica realista impedirá a idealização. Do mesmo modo, a retórica inflamada, que apelava para a emoção do leitor, cede lugar à contenção vocabular, à desconfiança da eloqüência.

                        Madame Bovary, romance de Gustave Flaubert (1821-1880), é a grande expressão do realismo europeu. No Brasil, Machado de Assis (1839-1908), foi o mais representativo autor do realismo de estrutura complexa da segunda metade do século XIX.

 

SIMBOLISMO

                        O Simbolismo nasceu, na Europa, nos anos 80 e 90 do século passado. Na mesma época em que os pintores impressionistas iniciavam a diluição dos contornos dos objetos nos jogos de luz, os poetas simbolistas renunciavam à tradição da forma fixa do objeto em favor do ritmo e fugacidade do momento. Buscavam a expressão de algo que escapa a uma forma definida e não é abordável por um caminho direto.

                        Rimbaud (1854-1891), expoente do Simbolismo francês, ressaltou: o poeta é um vidente por um longo, imenso e irracional desregramento de todos os sentidos. A essência dessa concepção é a crença em um mundo ideal, na concepção platônica, que só é realizável através da beleza.

                        Antes de 1890, o Realismo já entrara em decadência. Contraposto a ele, surge o gosto pela religiosidade e pelo incompreensível. Pela aproximação à concepção platônica de que o mundo sensível não é o real, a coisa em si não será, para o simbolista, o elemento principal a ser expresso, mas sim sua essência. Esta, porém, poderá ser apenas sugerida, e o perfeito uso dessa sugestão é que constituirá o símbolo.

                        No Simbolismo, o procedimento comparativo é banido. As imagens não são mais paralelas, superpõem-se em riqueza associativa.. Por outro lado, a musicalidade volta a ser cultivada. A palavra liberta-se da ordem frasal e carrega-se de sugestividade irracional. A linguagem simbólica é levada a extremos, isto é, os simbolistas sugerem situações, sensações, cores, sons, odores, etc., impressões sensoriais a fim de estimular a imaginação para que a Idéia seja apreendida. Os últimos entraves da métrica tradicional são rompidos. Não há mais o rigor formal da estética anterior, a poesia agora se constitui como expressão livre, seja em versos ou em prosa.

                        Arthur Rimbaud, Paul Verlaine (1844-1889) e Stephane Mallarmé (1842-1867) são os paradigmas do Simbolismo, cuja maior fonte foi Baudelaire (1821-1867). A partir desses poetas, a poesia ocidental vive um momento em que a objetividade e o tom escultural do Parnasianismo cedem lugar à evocação sugestiva e musical. Em lugar da exatidão, o vago. A palavra sofre um esvaziamento de seu conteúdo, valendo pela sugestão frasal.

                        Há na poesia simbolista um clima de mistério, e a palavra presta-se ao desvendamento desse mistério, estabelecendo relações e criando correspondência entre o abstrato e o concreto. Trata-se, porém, do lado não-conceitual da palavra, ou seja, de sua natureza significante.

                        Em síntese, o poeta simbolista caracteriza-se pela concepção mística do mundo; pelo interesse no particular e no individual; pelo escapismo em que se aliena da sociedade contemporânea; pelo conhecimento ilógico e intuitivo; pela valorização da arte pela arte e pela utilização da via associativa.

                        Os dois principais nomes do Simbolismo brasileiro são: Alphonsus de Guimarães e Cruz e Souza.

 

PRÉ-MODERNISMO

 

                        No Brasil, os primeiros vinte anos do século XX apresentam uma vasta e diversificada produção literária. De fato, essas duas décadas marcaram um longo período de transição entre o que era o passado (manifestações que se prolongavam desde o século XIX) e o que seria chamado de moderno (a arte posterior às tendências de vanguarda). Nesse período encontra-se as mais variadas tendências e estilos literários, desde os poetas parnasianos e simbolistas, que continuavam a produzir, até os escritores que começavam, a desenvolver um novo regionalismo, além daqueles mais preocupados com uma literatura política e outros, ainda, com propostas realmente inovadoras.

                        O que se convencionou chamar de Pré-Modernismo, no Brasil, não se constitui numa "escola literária" propriamente dita, ou seja, não existiu um grupo de autores afinados em torno de um mesmo ideário, seguindo determinadas características. Em verdade, Pré-Modernismo é um termo genérico que designa a produção literária de alguns autores que, não sendo ainda modernos, já promovem rupturas com o passado. Todavia, pode-se perceber alguns pontos comuns às principais obras desse período, tais como:

                        Ruptura com o passado (com o academicismo) - Apesar de algumas posturas que podem ser consideradas conservadoras, há esse caráter inovador em determinadas obras. A linguagem de Augusto dos Anjos, por exemplo, ponteada de palavras não-poéticas (como cuspe, vômito, escarro, vermes), era uma afronta à poesia parnasiana ainda em vigor. Lima Barreto ironizava tanto os escritores "importantes" que utilizavam uma linguagem pomposa, quanto os leitores que se deixavam impressionar;

                        Denúncia da realidade brasileira - Nega-se o Brasil literário herdado do Romantismo e do Parnasianismo; o Brasil não-oficial do sertão nordestino, dos caboclos interioranos, dos subúrbios, são temas freqüentes do Pré-Modernismo;

                        Regionalismo - Monta-se um vasto painel brasileiro: o Norte e o Nordeste com Euclides da Cunha; o Vale do Paraíba e o interior paulista com Monteiro Lobato; o Espírito Santo com graça Aranha; o subúrbio carioca com Lima Barreto;

                        Tipos humanos marginalizados - O sertanejo nordestino, o caipira, os funcionários públicos, os mulatos;

                        Ligação com fatos políticos, econômicos e sociais contemporâneos - Diminui a distância entre a realidade e a ficção.

                        Coube, então, a Lima Barreto, Graça Aranha, Euclides da Cunha, Monteiro Lobato, dentre outros, o papel histórico de sacudir a poeira inerte da belle époque, revelando, antes dos modernistas, as tensões que sofria a vida nacional.

                        Cumpre-se obtemperar que, embora tenham rompido com a temática dos períodos anteriores, esses autores não avançaram o bastante para ser considerados modernos - notando-se, até, em alguns casos, resistência às novas estéticas.

Por volta de 1912, Oswald de Andrade, recém-chegado da Europa, começa a divulgar, através de jornais paulistas, as novas correntes estéticas européias, principalmente as idéias futuristas de Marinetti. Mas, a rigor, essas idéias não encontram grande receptividade a não ser em grupos reduzidos de jovens intelectuais, ainda sufocados pela linguagem anacrônica da arte dominante.

Em 1917, depois de estudar na Europa e nos Estados Unidos, Anita Malfatti retorna ao Brasil e realiza uma mostra de seus quadros em São Paulo. Com uma técnica de vanguarda, a sua pintura surpreende o público, acostumado com o realismo acadêmico, trivial e sem ousadia pictórica. Mas, em geral, as reações são favoráveis até que Monteiro Lobato, crítico de artes de O Estado de São Paulo, escreve um artigo feroz intitulado Paranóia ou Mistificação, no qual acusa toda a Arte moderna.

A reação da elite paulistana, que confiava cegamente nas opiniões e gostos pessoais do autor de Urupês, é imediata: escândalo, quadros devolvidos, uma tentativa de agressão à pintora, a mostra fechada antes do tempo.

O artigo demolidor serve, entretanto, para que os jovens "futuristas" brasileiros, até então dispersos, isolados em pequenos agrupamentos, se unam em torno de um ideal comum: destruir as manifestações artísticas que remontavam ao século XIX, especificamente, no caso da literatura, o parnasianismo poético, medíocre e superado. Neste sentido, a exposição de Anita Malfatti funciona como estopim de um movimento que explodiria na Semana de Arte Moderna.

 

B I B L I O G R A F I A

 

BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. 43ª. ed. São Paulo: Cultrix, 2006.

 

UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO. Teoria da Literatura I. Rio de Janeiro: UCB, 2006.

 

CADEMARTORI, Lígia. Períodos Literários. 9ª ed. São Paulo: Ática, 2002.

 

NICOLA, José de. Literatura Brasileira: das origens aos nossos dias. 15ª ed. São Paulo: Scipione, 1998.

 

PACHECO, João. O Realismo: a literatura brasileira - vol. III. 3ª ed. São Paulo: Cultrix, 1968.

 

BOSI, Alfredo. O Pré-Modernismo: a literatura brasileira - vol. V . São Paulo: Cultrix, 1966.

 


 

 

 IRACEMA, VIRGÍLIA E RITA BAIANA

OS TRÊS PERFIS FEMININOS À LUZ DAS

RESPECTIVAS ÉPOCAS LITERÁRIAS

 

Iracema (José de Alencar) é a heroína típica do romantismo, que padece de saudades do amante, que partiu, e da pátria que deixou. Ela se enquadra dentro de uma corrente luso-brasileira cujo inicio data das cantigas medievais. É uma índia idealizada (bela, dócil, civilizada), bem diferente das que viviam no Brasil naquela época. Isso se deve ao fato de que, o romântico não focaliza o objeto como ele é, e sim, como ele vê ou quer. O objeto sempre está sob o foco subjetivo do autor.

 

Para o romantismo, índio bom é aquele que defende o branco e se volta contra seu próprio povo. Iracema ‚ o símbolo da terra brasileira virgem e exótica, é comparada à mãe-natureza pela exuberância, mas, como ocorre com todo herói romântico quando erra, ela pagou seu preço com a própria morte.

 

Com Virgília (Memórias Póstumas de Brás Cubas - Machado de Assis), o autor realista nos mostra uma mulher não tão perfeita quanto àquelas do Romantismo. O realista não enfeita a realidade, mantém um equilíbrio. Na verdade, ele nos mostra que o ser humano é um produto do meio, um produto cultural. Cabe obtemperar que Brás Cubas, por estar morto, se exime de qualquer compromisso com a sociedade, estando livre para criticá-la e revelar as hipocrisias e vaidades das pessoas com quem conviveu.

 

Virgília a primeira personagem feminina de Machado de Assis construída sob a ótica da nova Escola, cujo adultério com Brás Cubas é levado a efeito menos por paixão amorosa e mais pelo sensualismo. Ela é uma personagem que guarda os limites da verossimilhança da época, naquela sociedade conservadora.

 

Rita Baiana (O Cortiço - Aluísio Azevedo), o autor naturalista nos mostra que o homem está no mesmo patamar dos animais. No Cortiço, um romance de tese, o apelo ao erótico é grande, e Rita Baiana instiga toda essa sensualidade atribuída ao Brasil (calor, vermelho, lagarta, viscosa, cobra, muriçoca, etc.). A mulher está no mesmo nível dos insetos. Não há análise psicologia, tudo é externo.

 

O sexo é, em O Cortiço, força mais degradante que a ambição e a cobiça. A supervalorização do sexo, típica do determinismo biológico, e do naturalismo, conduz Aluísio a buscar quase todas as formas de patologia sexual, tais como: o "acanalhamento" das relações matrimoniais, adultério, prostituição, lesbianismo, etc.

 

BIBLIOGRAFIA

 

SOARES, Kátia Zandomingo. Literatura Brasileira II: Notas de Aula. Universidade Castelo Branco, Rio de Janeiro, 2009.

 

MOISÉS, Massaud. A Literatura Através dos Textos. 26ª. edição, São Paulo: ed. Cultrix, 2007.

 

RANGEL, Maria Lúcia Silveira. As Personagens Femininas em Machado de Assis. Disponível em: < https://www.kplus.com.br/materia.asp?co=53&rv=Literatura> Acesso em 20 de outubro de 2009.

 


 A CONTEMPORANEIDADE DE RUBEM FONSECA, ROBERTO DRUMMOND E JOÃO ANTÔNIO.

 

 

 

OBJETIVO:

 

Demonstrar que a literatura contemporânea é a literatura do hoje, feita de conflitos atuais e na maioria das vezes mantida por autores atualíssimos, como é o caso de Rubem Fonseca, João Antônio e Roberto Drummond. Refletir sobre o retrato fiel dessa nova realidade, um novo realismo que surge, retratando com brevidade o submundo das ruas, a violência e a sociedade de consumo, fragmentada, sem perspectivas e niilista. Asseverar sobre a necessidade de preservação de obras e autores de grande valor literário.

 

JUSTIFICATIVA:

 

Falar sobre a Literatura Brasileira Contemporânea a partir dos elementos contidos nas obras dos autores supracitados justifica-se porque, nos últimos anos, assistiu-se a uma crescente propensão de inúmeros escritores à fabricação de "best sellers", sob encomenda, obras que atendem a presumíveis exigências do mercado, a chamada "narrativa trivial".  O presente trabalho traz à tona a importância de não deixar sumir o espectro daqueles mestres dos "temas urbanos" e suas formas de retratar a realidade, seja de maneira cruel e direta ou com meios-tons.

INTRODUÇÃO:

 

É sempre muito difícil se analisar um cenário teórico fazendo parte dele, sem um distanciamento mínimo de tempo e espaço. Mas podemos apontar algumas tendências contemporâneas da literatura brasileira - e contemporâneas consideramos o que se tem produzido nos últimos vinte ou trinta anos, pós-ditadura. As obras de autores como: Rubem Fonseca, João Antônio e Roberto Drummond que embasam a Literatura Brasileira contemporânea, propiciam o entendimento da obra literária como criação estética integrada no contexto sócio-cultural e caracterizam o ser nacional brasileiro em relação a outros povos. Dessa forma, o estudo desses textos contemporâneos, além de dar continuidade na abordagem da dialética de tradição e de ruptura, de nacionalismo e de universalismo, integra-se à pluralidade de que configuram a cultura do mundo atual.

 

 

DESENVOLVIMENTO:

 

A partir da década de 70, a ficção brasileira de temática urbana foi condicionada por uma série de novos fatores econômicos, políticos e sociais: ditadura militar, Plano Real, desigualdades sociais, domínio do individualismo, etc. Todas estas mudanças influenciaram decisivamente a prosa de ficção de temática urbana das últimas décadas.

Num primeiro laço, observamos a decomposição das formas realistas tradicionais que haviam predominado até o fim dos anos 60. A partir dos anos 70, rompe-se com a linearidade narrativa e abandona-se toda a pretensão de uma concepção totalizante e lógica do mundo. O mundo está destroçado e não há como remontar seus estilhaços. Os personagens padecem de total desorientação, sendo incapazes de organizar-se a si próprios e, muito menos, ordenar o universo à sua volta. Desesperados, buscam uma verdade, sem saber se há possibilidades de encontrá-la. Ou nem mesmo a buscam, limitando-se a sofrer ou a protagonizar a desordem, a violência física e moral e a destruição das formas de convivência social. À desintegração ética segue-se a desintegração técnica, com a estrutura narrativa revelando-se desordenada, fragmentada e geralmente sem um foco narrativo, ou ponto de vista único ou claramente definido. Entre os autores que expressam esta tendência encontramos Rubem Fonseca (O caso Morel, Lúcia Mcartney); Roberto Drummond ( D.J. em Paris).

Cumpre-se obtemperar, que já no final da década de 1970 e nas décadas seguintes, esta força de desintegração, que parecia arrastar a prosa brasileira para o caos, recuou, dando lugar a uma razoável síntese entre ruptura e tradição, fragmentação e criação de mundo. Esta síntese poderia ser designada como uma "nova forma de realismo". Quem melhor a elaborou nos últimos trinta anos foi Rubem Fonseca, especialmente em seus contos. A impossibilidade de uma visão totalizante da nova realidade é uma das características principais do romance e pode ser a causa do triunfo do conto, que se tornou o gênero mais praticado no país a partir dos anos 70. Lidando com o relato breve, o registro de um flagrante da existência, o conto passa mais ou menos incólume pela desintegração de sentido de uma época.

Paradoxalmente, nos mesmos idos de 1970, ressurgiu uma espécie de "realismo social à moda antiga", traduzido por relatos que representavam de maneira direta os dramas das camadas subalternas, sem muitas preocupações com a linguagem. Era uma resposta à censura imposta pelo regime militar que proibia a imprensa de noticiar os aspectos negativos do país. O expoente do grupo, contudo, era um bom escritor, João Antônio, que tinha produzido os seus melhores contos nos anos de 1960 e que agora, como um cavaleiro andante, lutava para que os pobres do Brasil encontrassem seu lugar na literatura. No prefácio de Malditos escritores, João Antônio defende a arte como "um corpo-a-corpo com a vida". Estes escritos cometem (intencionalmente) quase todas as heresias diante de alguns conceitos tradicionais do purismo do fazer literário. Desse corpo-a-corpo nasce uma escritura descarnada a refletir sem floreio, impostura ou retoques, um mundo de suores, amordaçamentos, pelejas e medos. É a linhagem do realismo social explícito.

A partir da década de 1980, possivelmente como uma reação à desintegração das formas tradicionais de narrativa, ganhou espaço o romance histórico, isto é, aquele que evoca fatos e/ou personagens do passado reinterpretados por meio de uma visão crítica e desmistificadora. Normalmente este tipo de romance mantém-se dentro de um código mais ou menos acadêmico de narrar, contrariado experiências similares realizadas por ficcionistas do "boom hispano-americano", na mesma época, marcadas por densa invenção formal.  Observe-se que escritores de outra linhagem, a exemplo de Rubem Fonseca,  também se aventuraram neste terreno com resultados estéticos de qualidade.

Infelizmente, nos últimos anos assistiu-se, por fim, a uma crescente propensão de inúmeros escritores à fabricação de "best sellers", sob encomenda de editores ou não. São romances e novelas que atendem a presumíveis exigências do mercado: temas leves e pitorescos, reconstituições históricas convencionais, registro superficial dos costumes e da psicologia dos protagonistas e completa banalidade estilística. Trata-se de uma ficção descartável, integrantes de uma nova categoria literária, a da "narrativa trivial".

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS:   

A Literatura Brasileira é fecunda em temas e em expressividade, na abordagem da realidade, seja urbana, seja rural. A reflexão sobre a vida urbana pode ser feita pela leitura de autores como João Antonio, que retoma a concepção de literatura como luta, nos moldes de Lima Barreto. No que se refere à obra de Roberto Drummond, seus textos apontam relacionamentos ambíguos com os discursos dominantes da ditadura militar e com a cultura de massa, além de traduzir com clareza um sentimento de deslocamento, de marginalização, de expulsão do ser humano em relação à sociedade organizada. Rubem Fonseca, escritor e ex-delegado, torna vívida a realidade das ruas. É o caso do conto "Feliz Ano Novo", em que a construção da narrativa, o linguajar dos personagens, a falta de escrúpulos e a relação de amizades entre bandidos torna ameno qualquer noticiário policial.

 

Depois deste estudo, chegando a um ponto mais maduro de reflexão sobre as obras dos três autores citados, nossa convicção é cada vez mais sólida de que, a necessidade de preservação de obras e autores de valor literário se faz preciso. E nesse ínterim o professor de literatura pode ser o mediador e transformar a rejeição em prazer. Para que isso ocorra é preciso que nas salas de aula, sejam apresentadas para os alunos as boas obras, mas sem a obrigatoriedade de leitura. Justificar-se pela falta de tempo, por ser moderno, pós-moderno, contemporâneo, para não ler bons livros e dar prioridade aos livros que, de certa forma, são lixos consumíveis, não justifica o mau gosto literário. E neste contexto, estamos cheios deste tipo de leitor que é apenas um analfabeto funcional.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

 

 

BASTOS, Alcmeno. Poesia brasileira e estilos de época. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2004.

MORICONI, Ítalo. Como e por que ler a poesia brasileira do século XX. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.

PINTO, Manuel da Costa. Literatura brasileira hoje. São Paulo: Publifolha, 2004.

MACIEL, Luiz Carlos Junqueira. Estilos de época na literatura brasileira e em outras manifestações culturais. Disponível em: https://crv.educacao.mg.gov.br/sistema_crv/index.asp?id_projeto=27&ID_OBJETO=103521&tipo=ob&cp=000099&cb=&n1=&n2=Orienta%E7%F5es%20Pedag%F3gicas&n3=Ensino%20M%E9dio&n4=L%EDngua%20Portuguesa&b=s Acessado em: 03 de abril de 2010.

DENSER, Márcia. Diálogos; Literatura e Interfaces. Disponível em: https://www.centrocultural.sp.gov.br/livros/pdfs/dialogos.pdf. Acessado em 03 de abril de 2010.

 


 

 

 

ANÁLISE DO POEMA "A JESUS CRISTO NOSSO SENHOR" DE GREGÓRIO DE MATOS GUERRA

 

 

 

Nascido na Bahia, 1633 (Cândido&Castello) ou 1636 (Bosi), Gregório de Matos é considerado o primeiro poeta brasileiro. Estudou inicialmente com os jesuítas na cidade natal e, a partir de 1659, na Metrópole, formando-se em Direito em Coimbra em 1661. Em Portugal casou-se, foi magistrado e viveu até 1681, quando, já viúvo, retornou ao Brasil. Na Bahia, levou uma vida boêmia e indisciplinada de advogado de poucas causas e menores recursos, improvisando versos, caçoando de toda gente, inclusive das autoridades. Foi expulso do país exilando-se em Angola, voltou para Recife em 1695, onde veio a falecer no ano seguinte.

 

Apesar de ser conhecido como um poeta satírico, daí a alcunha "BOCA DO INFERNO", Gregório também foi exímio escritor de poemas sacros e líricos, conforme se observa no poema "A JESUS CRISTO NOSSO SENHOR", objeto dessa análise.

 

 

Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,
Da vossa alta clemência me despido;
Porque quanto mais tenho delinqüido,
Os tenho a perdoar mais empenhado.

Se basta a vos irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido;
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.

Se uma ovelha perdida e já cobrada
Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na sacra história,

Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,
Cobrai-a; e não queirais, pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.

 

 

No supratranscrito poema religioso, Gregório garimpa nas próprias Escrituras Sagradas expressões do Evangelho de São Lucas, mais precisamente na "Parábola da Ovelha Perdida", transparecendo a intertextualidade tão presente no gênero Barroco.

 

Outrossim, nota-se que o autor cultivou tanto o aspecto cultista como o conceptista, apresentando jogo de palavras (através da linguagem rebuscada), ao lado de raciocínios sutis e lógicos em jogo de idéias.

 

Cabe ressaltar, que o soneto reflete bem o momento histórico no qual Gregório de Matos vivia. O contraste culpa versus perdão denota a angústia mental, a falta de equilíbrio ideológico e o conflito entre o pensamento medieval e o renascentista pelo qual o homem daquela época passava.. É o pecador que se penitencia através da lógica argumentativa. Gregório argumenta com Deus que, por ser pecador, é que merece mais clemência com seus pecados, por isso, Deus pode exercer com mais empenho o perdão, pois não vai querer perder aquela ovelha. Numa nítida execução de silogismo aristotélico, o poeta encosta deus na parede!

 

Antíteses em abundância são utilizadas, tais como: "Pequei / não hei pecado"; "a vos irar / a abrandar-vos"; "ofendido / lisonjeado"; dentre outras, inclusive, servindo-se de uma linguagem sinuosa e cheia de curvas, o autor mostra-se dividido entre valores terrestres e valores divinos, numa clara oscilação antropocêntrica e teocêntrica, crise de valores típica do homem do seiscentismo.

 

 

BIBLIOGRAFIA

 

 

BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Ed. Cultrix, 2006. p.37.

 

CANDIDO, Antonio & CASTELLO, José Aderaldo. Presença da Literatura Brasileira (das Origens ao Realismo). Rio de Janeiro: Ed. Bertrand Brasil, 2003. p.44-45.

 

LUCAS. Português.In:Bíblia de Estudo de Genebra. Tradução de João Ferreira de Almeida. São Paulo: Ed. Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. p.1206-1207.

 

RODRIGUES, A. Medina; CASTRO, Dácio A. de & TEIXEIRA, Ivan P.Antologia da Literatura Brasileira, Vol. I. São Paulo: Ed. Marco Editorial, 1979. p.27-28.

 

PERES, Fernando da Rocha. Notação Biográfica. Disponível em: https://www2.ufba.br/~gmg/gregorio.html>. Acessado em: 13 de maio de 2009.


MODERNISMO BRASILEIRO – CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE – POEMA DAS SETE FACES.

 

Nos idos da década de 20, iniciava Drummond a publicação de seus escritos.  O Brasil ainda vivia a fase inicial do frenesi modernista. Meneios de renovação artística e literária já eram manifestos nos fins dos anos 10 (surgiam: Anita Malfatti, Villa-Lobos, Manuel Bandeira, Mário de Andrade), mas eram manifestações solitárias, que só desabrochariam na Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo, em 1922. Daí em diante, o movimento se espalhou por quase todo o país, como testemunham as revistas publicadas na época e os grupos que se formaram por toda a parte. A esses “anos ímpares”, de implantação polêmica de novas atitudes culturais, sucedeu um período de consolidação e diversificação, em meio a agitado contexto social.

 

Por volta de 1929, uma crise econômica atingiu severamente o café brasileiro, bem como a oligarquia dominante, imediatamente golpeada pela revolução de 1930. A injunção ditatorial que enceta o Estado Novo em 1937; os anos de cobro; a Segunda Guerra Mundial; as expectativas do fim da guerra e da ditadura Vargas em 1945, a sofreguidão dos anos de Guerra Fria e de ameaça nuclear, são alguns dos eventos que demarcaram uma época em que a literatura brasileira desenvolveu-se e aprofundou-se excepcionalmente.

 

Na segunda etapa do movimento modernista (de 1930 a 1945), a poesia apresentou algumas características marcantes (novos ritmos, bom humor, ironia, burlesco, temas anfêmeros, linguagem coloquial, omissões elípticas e associações insólitas), ao mesmo tempo em que se expandiu a temática e se pluralizou os recursos e as habilidades estilísticas. Delineia-se então o aspecto contemporâneo da Literatura Brasileira que, como a Literatura Alienígena, presencia o surgimento de três formas explicativas do homem e da sociedade: o existencialismo (Sartre), a psicanálise (Freud) e o materialismo dialético (Marx). Esses sistemas abastecem as grandes imagens que completam o horizonte mítico da época. Contra tal fundo imaginário, novo em muitos de seus aspectos, desenha-se a figura de uma consciência fenomenológica, ou autoconsciência artística que, no caso da poesia, fará da linguagem e do trabalho do poeta temas privilegiados da obra poética.

 

Carlos Drummond de Andrade é um ícone da poesia contemporânea brasileira. Sua obra poética escolta a manobra dos acontecimentos, inscrevendo todos os fatos e ocorrências que o ladeiam e que passeiam pela realidade diurnal. Suas poesias falam sobre os problemas universais e sobre o cidadão brasileiro, diante dos estatutos não democráticos da Guerra Fria.

 

Em alguns escritos, Drummond apresenta tintas de esperança para, logo em seguida, tornar-se cético com o destino dos acontecimentos. Todavia, é um escritor que refuta qualquer evasiva acerca da realidade, permanecendo voltado para o tempo presente, além de ter como horizontes: a transformação da realidade, a união e o trabalho coletivo. Sua obra apresentou, a priore, uma expressão individualista, memorial, atravessada pelo sentimento do mundo, composto pelo tédio existencial, que se transformou mais tarde em preocupação política, indo até a desilusão ideológica.

 

O “Poema das Sete Faces”, que inaugura o livro “Alguma Poesia”, ficou, já na época, conhecido como um poema insigne, sendo uma das mais memoráveis realizações da poesia brasileira naqueles anos de efervescência criativa.

 

Quando nasci, um anjo torto

desses que vivem na sombra

disse: Vai, Carlos!, ser gauche na vida.

 

As casas espiam os homens

que correm atrás de mulheres.

A tarde talvez fosse azul,

não houvesse tantos desejos.

 

O bonde passa cheio de pernas:

pernas brancas pretas amarelas.

Para que tantas pernas, meu Deus, pergunta meu coração.

Porém meus olhos

 não perguntam nada.

 

O homem atrás do bigode

é sério, simples e forte.

Quase não conversa.

tem poucos, raros amigos

o homem atrás dos óculos e do bigode.

 

Meu deus, por que me abandonaste

se sabias que eu não era Deus

se sabias que eu era fraco.

 

Mundo mundo vasto mundo,

se eu me chamasse Raimundo

seria uma rima, não seria uma solução.

Mundo mundo vasto mundo,

mais vasto é meu coração.

 

Eu não devia te dizer

mas essa lua

mas esse conhaque

botam a gente comovido como o diabo.

 

Cada uma das “Sete Faces” explora uma semblante transformado do “eu todo retorcido”. No conjunto, elas funcionam como as diversas perspectivas de um quadro cubista, em que o sujeito, aqui feito objeto, é desintegrado em talhos a partir de vários ângulos e remodelado pela anastomose dos fragmentos interrompidos.

 

A primeira “face” contém o tema que se tornaria característico de Drummond: a “falta de jeito” existencial, nunca exposta como autopiedade, mas enredada em ironia. A razão tradicional do poeta desadaptado à vida é reassimilada, não mais à moda das rotineiras arquiteturas romântico-parnasiano-simbolistas (através de um deus impiedoso), mas pela trivial reprovação de um “anjo torto” cuja anfibologia substancia o seu caráter excêntrico.

 

A segunda “face” nos coteja com um cenário urbano, inopinado depois do âmbito metafórico da “face” anterior. Nessa segunda estrofe surge mais um dos temas que seriam frequentes na obra e Drummond: Eros, que transforma o mundo e o sujeito, e que vem obliquamente aqui à reboque da indiscrição, patenteada por uma metonímia.

 

A terceira “face” representa o assombro perante o mundo, dissimulado atrás da sensibilidade supostamente indiferente das coisas aparentemente comuns. A ausência de vírgulas na sentença (“pernas brancas pretas amarelas”) é um recurso característico do modernismo e visa criar uma aposição rápida de ilustrações, evocativo de concomitância. O diálogo entre o coração e os olhos parece enunciar uma luta entre o sentimento e o desejo, ou seja, entre a sensualidade do olhar e a candura do sentimento. Esse embate aquiesce o conceito de corpo como quinhão da alma.

 

A quarta “face” aduz o cotejo com o outro – o “análogo dessemelhante”. De um lado, o quebradiço “eu lírico”, excêntrico e boquiaberto diante do mundo; do outro lado, o homem clássico, proverbial; o burguês rijo, probo e estável.

 

A quinta “face” expressa a criatura desabitada de Deus – sentimento característico de um tempo de crise de convicções e dogmas tradicionais, momento em que o homem sentiu-se “esquecido no mundo” e “sentenciado à liberdade”. Cabe ressaltar aqui a alusão às palavras de Cristo na cruz.

 

A sexta “face” reincide a matéria do “assombro diante do mundo” e adita noções novas, como a prisão ao esteticismo (o sentimento do belo é sensação e não idéia, e a arte, assunto de sensibilidade pura, independente do raciocínio) e a extraordinária asserção emocional do indivíduo.

 

Na sétima e derradeira “face”, a declaração obstinada socorre o pretexto pelo enlevo romântico da “face” anterior (ou mesmo pelo tom de confissão de todo o poema), escorando-se no sentimentalismo motivado pelos efeitos da lua e do álcool, como se o que foi dito se devesse ao espírito do momento e à carraspana.

 

 

 

BIBLIOGRAFIA

 

BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. 43ª edição, Cultrix, São Paulo: 2006.

 

MOISÉS, Massaud. A Literatura Brasileira Através dos Textos. 26ª edição, Cultrix, São Paulo: 2007.

 

FILHO, Ezio Angulski . Poema de Sete Faces (Drummond). Disponível em:

< https://ezio.wordpress.com/2009/02/27/poema-de-sete-faces-drummond/>. Acessado em: 01 de setembro de 2009.